sábado, 14 de novembro de 2009

Vidro escuro que surgiu da dor

Hoje eu vomitei a minha desgraça. Fiz uma promessa para com o céu e o vento, que brigavam com meu rosto. Eu vomitei as minhas mágoas e despejei toda dor que eu causei dentro de uma garrafa de vidro escuro. Desenhei um abraço no céu. A chuva acolheu.

As lágrimas que caíram – do céu, das nuvens e dos meus olhos, - invadiram o embrulho que lutava contra o vidro embaçado da garrafa. As cores se juntaram e formaram algo que dentro de mim se chamava arrependimento. Meu dedo virou tampa. Eu escondi toda aquela guerra por alguns momentos, até que minha cabeça se contorceu – e meu peito foi no mesmo compasso.

A água parou de chover do céu, das nuvens e dos meus olhos. Eu senti o vazio, e mesmo com toda dor de me abandonar, eu o fiz.
Taquei a garrafa de vidro escuro no concreto e vi parte minha se misturando com o chão. Eu vi a dor que eu causei e a mágoa que eu senti caminhando juntas entre as frestas de algo que eu já não podia alcançar.
Dói livrar-se de si mesmo. Eu cuidei tanto de mim – esquentei, beijei e acolhi com as estrelas cadentes da saliva. A tarefa não era simples e muito menos supérflua.
Descobri que o que dói mais não é deixar os outros irem, mas sim se deixar ir.

Senti as mãos longas nas minhas costas nuas, empurrando meu corpo quebrado contra o chão. Ele abaixou seu rosto como sempre fazia, apoiando todo seu peso nas minhas pernas: “Você me lembra a merda que eu pisei hoje. Insistente, suja, inútil. É só o resto que alguém abandonou. E que eu não me canso de pisar.” O meu buraco encheu um pouco. Eu não transbordei, e sorri porque tinha conseguido passar por isso novamente.



Eu acredito que a liberdade pode coexistir com o aprisionamento – mas os sonhos não podem perder suas asas.

Pois o sonho é a liberdade que meu coração - aprisionado pela mente - guarda.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Frisando

O mundo é o tudo, este é o grande problema.

domingo, 21 de junho de 2009

Você não pode quebrar o que sou

Os fatos concluídos semanas atrás foram besteiras. Eu contei demais com a minha visão, totalmente periférica e incompleta - cega. Esses dias o frio tem aumentado e pude formular comparações ainda mais bobas sobre tudo que eu havia pensado. Uma pessoa me disse que só dói se você pensar no motivo do caos, e talvez ela estivesse quase totalmente correta. Mas não lembrar as razões, praticamente ignorando-as é a mesma coisa que cair várias vezes - não aprendendo como andar sem os tropeços. Nós têmos que lembrar de esquecer o esquecimento, pois só nos traz mais chances de implosões. Nós precisamos da dor para encarar a realidade, e disso eu tenho certeza.

Agora, no frio que passo de madrugada, meus pés sem meias começam a formigar. Eu sinto o que acontece com eles, diferente da minha percepção com os outros. Nem formigação fui capaz de captar, porque eu sou alguém que quase sempre não se importa. Para tudo há uma excessão, assim como limites existem até para o mínimo. Eu só me importei com o que não precisava de significância. Eu acho que assim que as pessoas fazem, acarretando o arrependimento inútil.

Como a vitória não é definitiva, todo mundo cai. As consequências formam os finais, assim sendo, infinitas. Nada pode destruir o que sou, simplesmente porque já causei mudanças imutáveis.

domingo, 31 de maio de 2009

Vírgulas pecaminosas

Dizem que o Sol faz bem. Completamente. Ficar sem Sol deixa a pessoa deprimida – é o que dizem.Procurei entender mais, achar respostas menos dolorosas para certos acontecimentos. Mas, de que importava? Nada. Vazio. Ele que gritava, miava – sempre que podia, me dizendo que não se completaria. Não deixaria que algo o levasse de lá. O vazio permanece.

Tudo transformou-se, em meio de caos contínuo. Mesmo que minhas ideologias fossem contraditórias – até para mim mesmo, - não imaginava perder o que perdi.O tempo arrastou e levou com ele motivos e razões, mesmo que eu ainda esteja bem. Sorrindo. Com alguém que sei que vai continuar sempre ao meu lado – sendo a minha pessoa doente ou não, mentirosa ou não, alguma coisa ou nada. Fingindo sentimentos.


O bom de viver é ver que todas as suas certezas tornam-se dúvidas, e todos os pontos que você queria dar, alongam-se em vírgulas pecaminosas.Ser sincero machuca. Isto é certo? Quer dizer, ninguém diz como é a maneira correta de segurar as coisas. Correta. Não acho que ela realmente pertença á algo.Eu sei o que faço, e pensei muito sobre o que devo mudar e o que deve e vai (mesmo que eu não queira) permanecer. Então as coisas estão indo embora, machucando-se. Afastei tudo e todos, ou eles que quiseram mesmo ir embora; faz alguma diferença? O ar ficou pesado. Nuvens carregadas, mas não há chuva massageando o chão de concreto frio.


Isto é o certo para você? “Prender o choro pode dar câncer”. Ah. Suspiros quentes, o cheiro de hortelã invandindo nossos corpos com o tempo em que o suor aumenta, esfregando o tecido sobre a minha pele molhada. As lágrimas finalmente seguem seu caminho, aliviando a dor na garganta e o peso que havia no céu. O Sol se vai.

Vírgulas? Sei lá. Eu sei que não me importo com nada que não seja você.E é por isso que sou assim comigo e com eles. Não são você.

sábado, 23 de maio de 2009

Olhos em que a alegria permanece

Céu cor de chocolate, tornando-se preto enquanto a lua fria chegava – da cor de seus cabelos curtos, que caíam sobre seu rosto formando uma franja delicada.Fiquei um tempo escostado na grande parede de gesso, embaixo da ponte. Pixações e um pequeno chiclete sujo no chão eram as únicas coisas que ficavam ao meu lado – ou perto, - naquele momento. Estávamos esperando... Por você.

Na realidade, a vida nunca foi nada mais do que um período vazio de tempo. Cores ou não, significantes ou inúteis... Nunca fez muita diferença para mim. E acho que nunca fará para muitos. Mas tudo se transforma, e ainda estou achando que nunca perdi o rancor. Ele só diminuiu, por conveniência, talvez. Tanta dor não caberia em um coração que batia com razões. Razões essas que eu poderia envolver você.As pessoas fizeram com que eu ficasse feliz. Temporárias e dolorosas, se foram e deixaram pequenas memórias. Não sei o que é pior: continuar relembrando de tudo que já foi, ou realmente esquecer – ou pelo menos tentar cumprir essa promessa de nunca mais pensar em pessoas que se afastaram.

Eu sei que sou um grande mentiroso. De todas as maneiras, não sei ser verdadeiro. E não há desculpas para isso, não há desculpas quando se é alguém como eu. Você só é e não muda; todos podemos mudar. O difícil é querer. É ir em frente sem razões.A névoa manchava o céu e escondia a cor que eu tanto queria ver, mas seus passos foram pesados e você cobriu meu campo de visão. Meus olhos conheceram os seus, finalmente.

Nos enbolamos de um jeito bagunçado, quebrando as barreiras do conforto e esquecendo o que acontecia em volta. Não importava.E no final das contas, quando nos despedimos, eu não pedi para que ficasse mais um pouco. Eu não preciso ficar perto de você. Não preciso que fique comigo. Eu quero você bem. É a única coisa que realmente me importa. Porque eu amo você. E amar não é cobrar companhia.

sábado, 25 de abril de 2009

The Sound Of Silence

18 de setembro, 1999.


Olá, claridade falha, minha antiga amiga. Mais uma vez eu paro por aqui, querendo conversar.
Coisas aconteceram, e poucos notaram que o céu já não é o mesmo. Como podem? Ele perdeu sua cor e as nuvens estão fazendo um motim, formando grandes buracos negros. Onde minhas palavras e pensamentos ficaram presos. E por quê? Não sei de onde tiro forças, mas sei que ela vem de algum lugar... Será de alguém? Será que só depende de mim?
In restless dreams I walked alone.


14 de Novembro, 1999.


Andar sem o peso da minha sombra tem facilitado. Sozinho.
E então por que o vazio bate em minha porta? Ignoro, mas ele continua lá, esperando que eu dê motivos para ele ir embora. Eu abraço-o. Fico oco como uma pequena pedra; eu sou uma pedra.
Tudo tem sua vantagem, mas isso não significa que as coisas agradáveis não saibam se esconder. Admito que são as mais difíceis de achar, mesmo que de uma forma superficial, sejam as menos complexas.
As coisas ruins pulam em cima do que estiver perto; desesperadas por algo para destruir, consumir... Apodrecer.
But how many times can I walk away?


25 de Dezembro, 1999.


Vejo-me saindo de casa, andando para qualquer lugar que meus pés queiram. Sentei naquele banco, ocupando o seu lugar. Melancolias, cigarros... Só mais um jeito de esconder a minha cara.
Sinto algo no meu ombro. Talvez seja você querendo seu lugar novamente, ao meu lado, ou qualquer um que passou e percebeu que eu não pertencia a aquele banco. Movimentei o rosto para o lado e senti novamente; vento. Era só isso.
Vento que traz o pó do que sobrou de nós dois, de mim. Ruínas que ainda queimam. Mas do que isso importa?
Verifico o meu pulso: continuo vivo. Sangue, sangue... Estourou.
Cause I just want you here tonight.


Primeiro de Janeiro, 2000.


Hoje é o dia de esperar. Acontecer ou abandonar. E por que a droga dos artifícios? Eles não formam o que deveriam... Vejo seu rosto com olhos que abanam o adeus.
Treinando para a ida ao caixão, será que os passos estão lentos demais? Ninguém vai me acompanhar, ao não ser o som do meu silêncio. Chuva... As gotas me acordam.
And whisper'd in the sounds of silence.


Primeiro de Abril, 2000.


Dia que irei acordar as mentiras, reviver as mágoas que você tanto soprou em meus ouvidos.
Era tão pálida que fiquei surpreso com a mudança que veio com os anos perto de mim. Bochechas rosadas, oh, suas bochechas rosadas. Tão minhas!
Olho-me no espelho e tento concluir perguntas; porque respostas não parecem satisfazer mais meu apetite por mortalidade.
Por que virei o que sou? E pela primeira vez tive uma resposta simples, certeira e que sufoca até hoje.
'Cause you're my thrill.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Águas rasas muito profundas

O suor pingou da minha testa. Molhou o chão, dando um leve estalo em minha cabeça. As coisas acontecem e não esperam para isso; elas simplesmente acontecem porque nada é eterno. Estou lidando com isso. Tentando.

Estive tentando muito por um período recente, porque era a única coisa que não podia me frustrar. Se tentei, eu tentei. Não esperava conseguir, não esperava ver cor nessa tela em branco tão rapidamente. Porque, na realidade, tentar só estava escondendo o que eu realmente sentia. Dor.
Ou todos nós escondemos mal ou realmente não se há esconderijo certeiro. As verdades aparecem, as máscaras caem e a exposição ocorre; tudo isso em um pequeno estalo, em um raio que trouxe o trovão. Poucos segundos que nos contam a verdade. Rápida, realmente certeira... Dolorosas são as conseqüências desses míseros segundos; que acabam durando muito dentro de nós.
Durou muito em mim.

Da tinta que secou, ainda posso sentir o cheiro fresco entrar pelas minhas narinas,
Do giz que marca a folha de papel, consigo sentir em meus dedos sujos o material espesso e colorido.
E nada está lá, não existe naquele momento. É irreal, é inventado. Mas ainda traz conforto.
Porque se memórias são piores que as próprias vivências, podem muito bem trazer cócegas por períodos curtos. Se há um lado A, um lado B tem que existir.
Eu ainda lembro do por que me sujei e porque tudo pareceu tão bem quando eu o fiz.
Realizar atos sem sujeira não traz conseqüências suficientes para tornarem-se inesquecíveis... Por isso há poços em que ainda quero cair, são bons demais para serem ignorados.

Porque a primeira longa jornada começa com o primeiro grande tropeção.