sábado, 14 de novembro de 2009

Vidro escuro que surgiu da dor

Hoje eu vomitei a minha desgraça. Fiz uma promessa para com o céu e o vento, que brigavam com meu rosto. Eu vomitei as minhas mágoas e despejei toda dor que eu causei dentro de uma garrafa de vidro escuro. Desenhei um abraço no céu. A chuva acolheu.

As lágrimas que caíram – do céu, das nuvens e dos meus olhos, - invadiram o embrulho que lutava contra o vidro embaçado da garrafa. As cores se juntaram e formaram algo que dentro de mim se chamava arrependimento. Meu dedo virou tampa. Eu escondi toda aquela guerra por alguns momentos, até que minha cabeça se contorceu – e meu peito foi no mesmo compasso.

A água parou de chover do céu, das nuvens e dos meus olhos. Eu senti o vazio, e mesmo com toda dor de me abandonar, eu o fiz.
Taquei a garrafa de vidro escuro no concreto e vi parte minha se misturando com o chão. Eu vi a dor que eu causei e a mágoa que eu senti caminhando juntas entre as frestas de algo que eu já não podia alcançar.
Dói livrar-se de si mesmo. Eu cuidei tanto de mim – esquentei, beijei e acolhi com as estrelas cadentes da saliva. A tarefa não era simples e muito menos supérflua.
Descobri que o que dói mais não é deixar os outros irem, mas sim se deixar ir.

Senti as mãos longas nas minhas costas nuas, empurrando meu corpo quebrado contra o chão. Ele abaixou seu rosto como sempre fazia, apoiando todo seu peso nas minhas pernas: “Você me lembra a merda que eu pisei hoje. Insistente, suja, inútil. É só o resto que alguém abandonou. E que eu não me canso de pisar.” O meu buraco encheu um pouco. Eu não transbordei, e sorri porque tinha conseguido passar por isso novamente.



Eu acredito que a liberdade pode coexistir com o aprisionamento – mas os sonhos não podem perder suas asas.

Pois o sonho é a liberdade que meu coração - aprisionado pela mente - guarda.

Um comentário: