sábado, 28 de março de 2009

Paciência

Esses dias eu quis sentir o que eu pensei que nunca fosse real. E como poderia? Mas tudo esteve tão falso, algo poderia mudar de um jeito. Talvez transformando tudo, colocando meu mundo de ponta cabeça, as coisas fariam algum sentido. Um daqueles que você sabe que é verdadeiro. Paciência.
Elliot, sentada em frente ao espelho de um banheiro público. Olhando... Pegou um papel e fez sua própria diversão, transformando papel em arte. Suspirou.
Insensibilidade. É o melhor caminho para qualquer lugar que você queira chegar. Não importando se o resultado vai ser como você esperava ou não. Sempre supera tudo que você já tentou imaginar. Porque as pessoas não sabem reagir diante disto. A maioria não sabe se controlar com a insuficiência.
Como qualquer banheiro, alguém poderia entrar. Uma garota, mais velha que Elliot o fez. Sentou ao lado dela e ficou observando seu papel, dobrado. Formando um pequeno, mas complexo, pássaro.
“Você teve que ter paciência para fazer um desses, né?”
“Ah sim. Sim.”
“Aonde aprendeu?”
“Minha vizinha. Acho... Não me recordo. Só sei que consigo fazê-lo”.
“Nunca aprendi. Mas sempre quis”.
Elliot a encarou e tentou sorrir, soprando as palavras seguintes:
“Apresento-lhe sua chance...” .
Estão virando as costas. Cansando do que faço e do que sempre fiz. E por quê? Porque sou mais do que elas precisam e mais do que elas conseguem controlar. E isso nunca foi culpa minha. Na maior parte do tempo, o culpado sempre foi o ser que se relacionou comigo. Aquele que ansiou por mim. A merda foi feita por ele e não por mim. Só dou avisos. E eles só tornam tudo ainda mais curioso.
Elliot pegou um outro papel e começou a ensinar a outra mulher, fazendo com que depois de alguns pedaços dobrados de forma errada e torta, um novo pássaro fosse formado. Ainda mais complexo. Um fruto de algo novo.
“Aí está. Aprendeu.”
“É mesmo. Finalmente.”
“Fique contigo – Elliot deu os dois pássaros para a outra, agora sorrindo de verdade – é sempre bom ter algo que te relembre pessoas que te deram chances novas, chances esperadas...” .
As cicatrizes não vão desaparecer. E esconde-las nunca foi muito convincente. Elas conseguem transparecer pelo modo que falo, pelo modo que ajo... E pelo que sou. Transparece rigidez. E isso eu nunca pude esconder. Mas não deixa de ser tentador tentar. Tentar nunca é impossível.
Elliot saiu, deixando a mulher sentada, encarando os pássaros. Ela os pegou, levantou. Deu uma olhada no espelho e caminhou até o lixo, tacando os dois pedaços de papel ali.
“Como se ela soubesse o que são chances... Como se ela soubesse que ela é só mais uma alma passageira. Disto eu não quero lembrar, pois já tenho gravado em minha mente.” .
E eu nunca mais vou batalhar novamente. Porque é assim que as pessoas acabam com as coisas... Tacando no lixo.

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